terça-feira, 20 de janeiro de 2009

E na hora certa o que escolher?


Somos dois medrosos então, meu estimado amigo. Eu tenho medo de não fazer o suficiente para que ela saiba que ela é amada. Tenho medo de parecer ridículo em ainda amá-la, quando nem sei se ela ainda me espera. Tenho medo de ser tarde demais para olhá-la, reconhecer seu sorriso, sentir seu cheiro... Tanto medo de que nada disso ainda possa ser meu... um dia...

Entendo todas as tuas palavras, como se fosse minhas próprias, meus sentimentos, minhas angústias. Ah Poeta, estou tomando minhas decisões e arrumando minhas malas ao mesmo tempo em que sou tragado pelas lembranças...

O amor, como os apaixonados são comparáveis a montanhas, sim, longas e tortuosas montanhas, aquelas que determinadamente queremos alcançar o cume. No começo somos impelidos por uma irresistível força, vemos aquela altura toda como um grande desafio, e cantarolando uma canção qualquer nos pomos a subir. Vemos beleza no esforço, nas pedras com as quais podemos nos apoiar...É o sorriso que nos faz subir um pouco mais, são os planos que nos fazem passar por aquele caminho mais complicado, é o “eu te amo” que nos faz esquecer o cansaço e continuar a subir...

Hoje ela não está aqui e faz frio... então olhamos para aquela enorme montanha, em todo o caminho que precisa ser percorrido... E onde ela está, que não está aqui para segurar minha mão e dizer para ter paciência? E porque só consigo me lembrar de que ontem, antes de sumir, ela me perguntou se ainda havia mesmo sentido em subir essa montanha? Lembro-me de seu olhar triste verificando montanha a baixo, e toda a linda e vistosa vegetação ao redor enquanto me dizia que eu mereço muito mais do que estar ali, com ela, enfrentando várias privações, sem nem mesmo saber ao certo o que terá no fim. Fiquei triste na hora por pensar que tudo aquilo que dizia, talvez ela pensasse a seu próprio respeito, talvez aquilo não fosse para ela, talvez ela queira mais do que as incertezas de uma tortuosa montanha, talvez não seja mais suficiente os meus abraços nas noites escuras de medo....

Hoje, sozinho, fico lamentando por não ter dito, e agora nem poder dizer a ela que, não me importa o lugar ou como, eu só quero estar com ela, eu preciso estar com ela... Porque não importa muito se quando chegarmos ao cume não tiver descanso e uma bela vista, a minha recompensa foi cada minuto a seu lado, foi levantá-la quando ela caiu, foi aquele olhar cheio de carinho que ela tinha enquanto cuidava de mim, foi levá-la em minhas costas fazendo graça com o seu peso...

Diga-me amigo, porque mesmo nós, poetas, não conseguimos explicar a elas que nada mais precisa ter sentido, porque ela é todo o sentido... todas as palavras... todas as estrofes... toda a inspiração?

Porque não conseguimos lutar contra a força que nos impele...

Não me surpreendo mais por não me reconhecer... por não conseguir sequer responder aquela corriqueira pergunta do como vai... Tampouco me assusta, o fato de ainda me sentir incrivelmente vazio, seja quando me entrego ao trabalho, ou aos vícios... nada mais me preenche... E tudo isso porque falta um pedaço meu, aquele que ela nega, aquele que ela insiste que é nocivo, aquele que ela traz e depois se arrepende, e leva de volta....

Agora entendo essa sua medida desesperada de abrir o baú, precisamos nos apegar a qualquer coisa para tentar seguir em frente, mesmo que seja às dores das lembranças ou a angustia das falsas esperanças... Foi mais ou menos isso que tentei quando, naquela tarde queimei meus desejos por ela... as chamas consumiram a fita, não os desejos....

E idealismo, meu caro, é defeito de poeta... Ou achas que há alguma ponderação ou realismo em abandonar trabalho, projetos, responsabilidades assumidas, laços, por um olhar, uma resposta? Oh dúvidas que não me deixam pensar, que já quase me fizeram desistir, desarrumar as malas, e que a todo custo minha paixão, meus sonhos, minhas pseudo-esperanças tentam dissipar! E onde ela está? Onde mais além de dentro de mim?

Tento repetir para mim, para ela, para ti e para tua: “Fácil é dizer eu te amo, difícil são as coisas que tem que ser feitas por amor...”.

Sinceramente tenho medo sim, de me decepcionar, de sofrer um pouco mais, mas tenho mais medo ainda de descobrir, numa tarde fria e solitária de domingo que não fiz o suficiente por minha própria felicidade, de que não amei o suficiente, que não me permiti chorar o pranto da perda, da saudade, de que tive medo de viver meus melhores poemas... disso sim tenho pavor! E confesso: tenho medo por ela também...

Eis que se aproximam momentos decisivos em minha vida, um grande passo para minha formação para a revolução, um grande passo para enfim ter nos meus braços a mulher que amo... E me vejo diante de decisões cruciais, de medos, de fantasmas... E na hora certa o que escolher?

Espero que possamos nos encontrar antes que eu parta para essa grande empreitada, tomar um ultima taça de vinho, declamar um último poema que ressoe por todo o tempo que ficarei fora, e não deixarei de lhe escrever, meu amigo, afinal, preciso me sentir compreendido, também por tuas palavras....

Desconexo.



sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Mal-me-quer, Bem-me-quer

Amigo com muito nexo, devo confessar-te uma coisa: tenho medo de amar!

...

É sim, é isso, não há vergonha em dizê-lo. Talvez seja porque o amor nunca me trouxe felicidade e como diz a música, quando parece ser, não passa de pura casualidade. É estranho, mas todo “gostar muito”, na minha vida, transforma-se em dor.
Parece que o amor não quer bater por completo em minha porta e eu já cansei daquela brincadeira que nós fazíamos quando crianças, aquela que nós pegamos a rosa e vamos tirando pétala por pétala em um mal-me-quer, bem-me-quer infinito. Quantas rosas foram destroçadas!
A confusão é tanta que não sei definir em que estado de alma eu me encontro agora. Ando recusando convites que há dois meses nunca seriam deixados de lado, convites para fazer visitas. Muito embora aquela que habitou minha morada nos últimos meses diga por aí que eu pareço fugir dela, eu tenho fugido é de mim, dos meus sentimentos, de envolvê-la (ela que tão pouco merece) em minhas confusões imperecíveis, de machucá-la acima de qualquer outra coisa.
Enfim...
Não, não foi um ato corajoso reabrir aquele baú, muito pelo contrário, ele foi aberto em um momento de leve desespero. Eu, já por muito tempo, quis abri-lo, mas tinha um medo que foi sobreposto pela agonia de ter um objeto ali parado, impedindo passagens, chamando atenção e querendo alguma também. Hoje eu coloquei algumas coisas novamente dentro do baú por medo de que elas se perdessem, se desgastassem antes do tempo e por puro cansaço também de tê-las imóveis, sem sentido. Sinto que elas estão mais protegidas lá dentro. Eu continuo me possibilitando conhecer a minha dor, vivê-la e sofrer mais pelo mesmo motivo, lembrando dos dias em que, como diz o Poeta, passei à sombra dos gestos dela, bebendo o perfume dos seus sorrisos.
Em um leve piscar de olhos, ela veio e se foi: fantasia. Sim, mais uma! É preciso que, em determinados momentos, nós abramos esses baús para que algumas coisas tenham mais acepção.
Dessa vez ela não falou das minhas metáforas, mas me pediu ponderação e que eu tentasse esquecê-la mais uma vez, apontou-me como defeito ser idealista. Nos dias em que eu me permitir ser consumido por ponderação e realismos bobos, amigo, arranca-me tudo que tu puderes, inclusive o meu 'pseudopoetismo'. Deixa-me nu e sozinho diante de multidões, retira-me o último véu de consciência e encha-me de paradoxos para que a loucura me alcance e eu seja pisado por minhas próprias dúvidas.
Eu estou aqui, ela sabe, para o que for necessário. Se ela precisa de força, ela vem buscar e eu dou o pouco que ainda me resta com o maior carinho. Das vezes que eu precisei (inúmeras), não a encontrei. Normal. Este poeta hoje está firme, muita dor plangente trouxe rigor!
É, amigo, eu lembro sim desse episódio, daquela fogueira, das lágrimas; era outubro em terras onde o verde do capim é vibrante por ser regado por chuvas diárias. Não era mentira, era o coração pedindo tempo de chorar, implorando trégua, afinal nós precisávamos tentar, não? Conseguimos? Não, mas tentamos, oras! Eu não queria, mas fui encorajado pelo “Hoje eu briguei com o amor”. E depois, enquanto vocês jogavam bola? Eu chorei todas as lágrimas que carregava em mim. Em soluços, sob um edredom, recebi um abraço de quem, como eu, não queria esquecer, mas precisava tentar e queimou fotos substanciais. Do que o fogo consumiu, um desenho que ela nunca vira, mas que eu pretendia mostrar-lhe um dia. Hoje eu precisava vê-lo, tentar sentir a paz que me enchia quando o fiz, mas não o tenho, assim como não a tenho também. Depois de tudo, os meus dias continuam sendo dela: dias de riso, de gozo, de feira, de música, de dor, de saudade, de porre, de vícios. Ela sabe que é a minha mais profunda poesia, ela me faz inteiro poeta.
Na verdade eu penso que talvez eu não tenha medo de amar, mas sim das conseqüências que isso me traz. E agora tenho medo de que a brincadeira do mal-me-quer e bem-me-quer mate a minha rosa que se mostra inteira resistente a mim e a si. Não sei até quando, de fato, ela permanecerá querendo lutar e criando novas e novas pétalas pra que nós arranquemos. Essa não será mais uma rosa destroçada!
Fico por aqui e vou esperar aquelas cartas, viu? Quero saber os teus desfechos, das tuas esperanças, das tuas conquistas e o que acontecerá entre a "luta e o amor".

PS.: A minha oportunidade vem do mar!

Abraços saudosos do teu amigo Poeta.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quando o poeta fala de amor


Nas noites do mais silencioso barulho,
Elas tentam se esconder atrás de seus frágeis sorrisos.
Os olhares ansiosos procuram,
Se procuram,
Aquela que outrora machucou, hoje parece ferida .
O semblante está invariavelmente perdido
E num ato desesperado ela machuca mais um pouco
Machuca a si mesma, faz machucar
Mas ela continua perdidamente vazia
Elas se procuram

Lembra-te desse pseudo-poema? Acho que não, lembrei dele assim que li tuas palavras, a propósito está cada vez mais difícil escrever a tua altura, sabes que sou melhor com as palavras faladas, do que com as escritas, mas vou me arriscando.
Que coragem a tua de abrir aquele baú, aquele que tenho quase certeza de que todos nós temos um guardado em algum canto de nossa humilde morada. Confesso-te que, há dias em que faço força para nem lembrar dele. Lembras, também, de quando estávamos naquela cidade das mangueiras, e eu dei a idéia de nos livrarmos de nossos fantasmas “de amor”, tu me perguntaste, olhando diretamente pra mim, com os olhos um tanto encharcados: Tu realmente quer esquecer? E eu lhe respondi firmemente que sim. Mentira! Mas uma daquelas mentiras que contamos para nós mesmos a fim de que seja mais fácil acreditar, ou seria esquecer?
Eu não quis, não quero e nem posso me livrar de meus fantasmas, de meu baú. Seria como abandonar a mim mesmo, no meio da estrada, sozinho, numa noite eterna e sem estrelas. Seria, talvez, como deixar para trás meus livros de poesia, aqueles que ganhamos de bons amigos. Seria como deixar esquecida, aquela companheira xícara de café. Seria como silenciar a velha, mas única, vitrola que resiste intacta ao tempo. Seria como esquecer as palavras e rasgar poemas.
Estás certo, não podemos abandonar isso, porque isso é parte de nós. Por que isso é amor. Porque amor, mesmo quando fala de desamor, mesmo quando chorado, sofrido e malamado, é amor. É aquele delicado amanhecer, que entra pela janela, afaga teu rosto e te chama a levantar, a viver, e a cantar. E assim, antes que tu saias para começar esse dia, ele te presenteia com um sorriso, que nasce talvez de um beijo, ou de um outro sorriso, ou da contemplação de um terno adormecer, de uma lembrança...
E à tarde, quando se é surpreendido por aquela deliciosa preguiça, eis que antes de se entregar você se aconchega aos macios braços do poema de amor. E é presenteado com um lindo sonho, onde as flores cantam os poemas de esperança, e as sementes que os ouvem se arriscam a deixar sua grossa casca de proteção e, tímidas, mas persistentes elas começam a aparecer e a transformar todo o jardim a seu redor.
Ao acordar, estão todas as suas forças revigoradas, e suas idéias, e seus sonhos. E eis que o espetáculo em que o sol, em lua se transforma, traz consigo as palavras certas, para você terminar aquele lindo poema. Aquele que você cantará mais tarde, enquanto sorve cada parte dele, enquanto toca suavemente suas formas, contemplando sua métrica. Aquele que fará os olhos se cerrarem, diante do inundante êxtase do gozo, ou como meu amigo Poeta diz, o momento em que se sente completo no outro.
Ah meu amigo, guarde mesmo o mar, contemple o mar, sinta o mar. Assim, quando aquele temido e bisbilhoteiro senhor, chamado Tempo, vier lhe aplicar qualquer uma de suas artimanhas, distraía-se com o mar, com o vai e vem de suas ondas, que trazem... que levam... que trazem... que levam... que levam, mas trazem!
Eu acredito em ti quando dizes que escreves só metade do que sentes. Eu diria até que qualquer poeta escreve só metade do que sente, assim como ele mesmo é metade poesia, a outra metade é feita de amor, temperada com uma porção de dor (a gosto), uma colher e meia de esperanças, uma pitada de decepção e tudo vai parar numa fôrma de angústia. Mas tudo não cabe numa fôrma, e assim o que sobra vai para as palavras, ou ele deixa derramar... e inundar o mundo.
E por falar em poeta, não posso deixar de comentar a respeito de uma de suas rimas preferidas: amor e mulher. Tu, meu amigo, bem me mostrastes o quão perfeita é essa rima. Afinal, seja na malícia quase assustadora de quererem ocupar os lugares que não lhes pertencem, seja naquele doce e irrecusável pedido por qualquer coisa, em qualquer lugar, seja pela entrega ilimitada, ou ainda pela manipulação calculada, seja na determinação de conseguir e lutar pelo que querem, ou mesmo no medo, quase irritante, de não seguir em frente para não perder, seja por fim, por despertar, alimentar, ou até matar (mesmo que não morra) esse tal amor, que elas são cúmplices e amantes perfeitas do poema, ou seria do poeta?
Chega de frases desconexas por hoje!Encontre-me na esquina mais próxima, no banco mais vazio, da Praça dos Poetas, na Cidade das Palavras. Tu levas os cigarros, eu o vinho, a noite os poetas, as estrelas os poemas, e vamos sim sustentar esses vícios, principalmente esse vício, chamado amor.

Um grande abraço,

Desconexo.

P.S. Minha oportunidade vêm dos deuses, e a sua?