quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Nostalgia

Os meus dias têm sido assim: repletos de saudades.

Saudades suas, saudades da minha falsa sensação de completude, saudades dela, das coisas que ela dizia e me afagava o coração. São níveis nostálgicos diferentes.
Agora sinto arder em meu peito uma saudade da cadeira de balanço e dos bolinhos da minha avó paterna. Eu lembro que ela vivia sozinha, por escolha própria, em um sítio - desses de avó daquelas histórias que nós lemos na infância sobre férias - onde cultivava tudo aquilo de que tinha necessidade. Tudo que precisávamos encontrávamos ali pertinho, no fundo do quintal. Tinha decidido viver assim desde que perdera o meu avô, que ela dizia ter sido o único e grande amor de sua vida; iria morrer só, vivendo de saudades.
Como era maravilhoso subir na mangueira, pegar a fruta e comer ali mesmo, sob uma sombra cheia de silêncios que uma criança não se dá conta da importância, mas que o adulto sente uma falta doída tremenda.
Lá nós dormíamos cedo e acordávamos muito cedo também, com o cantar dos pássaros que eram criados lá mesmo, sentindo o cheiro do melhor café e do bejú com queijo saindo do fogo, o beijo na testa e o “oxente” da minha avó. No final da tarde ela estava lá, sentada na velha cadeira de balanço e contando as piadas que só ela sabe fazer (a minha avó não conta historinhas, conta piadas). Aquela cadeira em que eu sentava e tinha a sensação de que estava em um barco à deriva e só queria isso mesmo, permanecer sem porto.
A cadeira da minha avó era como o amor...

Deixamos-nos levar pela leve sensação de flutuar; às vezes mal, às vezes bem, mas flutuando e isso já vale. Subindo e descendo, para um lado e depois para o outro: às vezes é chato e faz um mal danado, mas ainda assim estamos ali, navegando em águas que nem sabemos onde vão dar. A dúvida também é cruel. Pior é encontrar, no meio do nada, um obstáculo que vá nos fazer parar, cair, afundar. Afundar não é o maior problema, o pior é a sensação de ESTAR afundando e salvar nosso sentimento não depende de nós.
Sim, amigo, somos dois medrosos. Eu não tenho mais medo de ficar sem porto, porém sinto-me machucado vez ou outra e saio por aí querendo mudar as coisas facilmente, no impulso. Exatamente como ela pede (até nisso até ela tem força).
Eu acho que já passei da fase do medo de ser ridículo em continuar gostando, mesmo porque não há para onde fugir. Mas os medos ainda me dominam. A diferença entre nós dois é que eu disse que não importava a condição, era com ela que eu queria estar, enfrentando o que fosse. Do que me serviu? Hã, não ousaria dizer que nada, mas digo que foi muito pouco.
Acho que nós, amigo, sabemos sim explicar que elas são o nosso maior sentido, agora eu penso é que elas não querem entender. Acredito que não seja difícil perceber tanto querer em linhas de inúmeros textos, algumas TÃO claras.
Já li de tudo, já li coisas que aproximam e dolorosas coisas que afastam. Já entendi, já tentei entender, já abri mão de coisas, já refiz caminhos tentando achar o que, de fato, teria caído do meu bolso. Já a esperei em esquinas por onde ela não passa e não passará. Agora eu parei de esperar, vou permanecer nas velhas lembranças até onde eu puder.
Mas ainda na mesma linha: nada é igual sem ela, nada é completo sem ela.

E você, Desconexo, mande-me notícias urgentes. Quero saber a quantas anda a batalha entre o trabalho e o amor. Desculpa a demora, amigo, a inspiração bateu asas daqui.
Abraços.
O Poeta.