domingo, 28 de novembro de 2010

Não existe Amor, só vontade.

Tenho andado muito. Às vezes eu sei para onde, outras eu simplesmente caminho sem olhar as luzes ao final de cada trilha. Não sei se isso é bom, mas tem preservado boa parte do que sobrou dessas rupturas amorosas que nunca levam apenas o que trazem. A grande novidade é que eu fiz diferente, resolvi seguir o conselho que a tua Marcela mandou para mim na tua última carta:
“Marcela manda que lhe aconselhe, manda dizer que se nada der certo, tu jogues esse tal baú ao mar e se junte a nós, nessa brincadeira de vazios”
Mudei de cidade, troquei os móveis, tirei a barba, cortei os cabelos, troquei as roupas, as leituras, a marca do cigarro e abri as portas pro vazio entrar e dividir comigo algumas taças de vinho e alguns versos de Álvares de Campos. A última coisa, no canto escuro do quarto mais bagunçado, aquele baú... eu sabia que ele precisava de um fim e imediato; mas eu sequer conseguia olhá-lo sem que a ideia de que o amor realmente criou-se e perdeu-se nos contos da carochinha viesse à tona. O Amor talvez seja isso mesmo: historinhas contadas antes de dormir, mas pouco importa agora, eu sempre gostei mesmo de boas histórias antes de ir pra cama.

Passei por muitas cidades, por muitos rios, córregos, riachos, lagoas. Foi em uma dessas caminhadas que, procurando o destino certo para o meu baú, encontrei um rio charmoso chamado Edaduas que tem esse nome porque tudo que se joga lá nunca mais incomoda, não é à toa que se chama Saudade ao contrário, pois nada do que fica ali desperta saudade em quem jogou. Foi o fim que ele precisava. E, tal qual o pequeno príncipe, sentei na relva e chorei...

Hoje moro em uma vila chamada Itaguaí, é tranquila e pequena e emana poesia. Na única praça, uma escultura de Simão Bacamarte o médico que decretou que toda a vila era louca e ele era o único são. Mas todo mundo sabe que o único louco era o próprio Dr. Simão que se trancou no hospício da cidade – criado por ele – e lá mesmo morreu. Não tem barbeiro, não tem soldados, mas tem uma bela padaria, uma livraria que também é café e muitos casais que namoram na praça. Uma vila de muitas histórias/estórias que vou contar aos poucos.
Não tenho mais o baú, mas ainda tenho metáforas. Falta amor, só há a linguagem – que talvez seja o que temos de mais valioso. A verdade é que, por esses tempos, não existe amor, só vontade.

Desconexo, espero você em uma visita. Desculpe a demora, estava me adaptando a nova vida.

Abraços do seu amigo
Poeta.